de João Moreira Salles
É um documentário que mistura fantasia e realidade para contar a história do mordomo Santiago Badariotti Merlo, que dedicou sua vida a servir a aristocracia, apesar de ser viajado, poliglota, dono de uma cultura extraordinária e vindo de origem humilde.
Santiago é o nome do filme e do personagem. Durante 30 anos, Santiago foi mordomo da família de Salles, uma família muito rica, culta e influente, como fica claro no filme. Santiago trabalhou na casa da Gávea, onde João Salles morou até os 20 anos e que hoje abriga o Instituto Moreira Salles, um centro de referência para a música e para a fotografia no Rio de Janeiro.
Em 1992, o realizador percebeu a singularidade do homem que viria a ser seu personagem no filme. Já aposentado, Santiago mora em um pequeno apartamento do Leblon, no Rio de Janeiro.
Apesar do personagem, João Salles abandona o filme em 1992. Quando cometido por uma crise pessoal e profissional, resolveu retornar às suas memórias de infância, à família, à casa e, conseqüentemente, ao mordomo. Reviu todo o material que registrara e retoma o filme em 2005 e agora, é ele próprio que vira personagem. Narrado em primeira pessoa, na voz do irmão, Fernando Moreira Salles, o processo do filme passa a fazer parte dele e aparece, sobretudo, como uma autocrítica ao seu modo de conduzir o filme em 1992 e ao fato de na época não ter percebido a relação de poder ali presente. Ao poder do documentarista se somava o poder do filho do patrão.
Fundamentalmente o procedimento do filme hoje é esse; a claquete está presente, a fala de Salles antes do comando de “ação”, os retakes, o off. Através da presença do que normalmente é eliminado na montagem de um filme, reconhecemos os pontos que perturbam Salles hoje; a direção das falas, textos, gestos e o excesso de zelo estético na composição dos quadros e no trabalho da fotografia.
"Santiago" não seria um filme sobre Santiago, e sim sobre como o cineasta não entendeu o mordomo durante aqueles cinco dias que esteve com ele fazendo suas entrevistas, usando-se de artifícios de montagem, som e repetição para dizer o que bem desejasse.
Nas entrevistas, não queria ouvir o que Santiago tinha a dizer. Queria que ele dissesse o que queria ouvir, que ele se parecesse com o Santiago da sua infância, com o seu Santiago. Daí as ordens, os planos repetidos. Essa relação de patrão e empregado é também uma alegoria do que acontece em todo filme, entre o documentarista e o seu objeto. É preciso ter consciência disso, mesmo quando se filma o presidente, a palavra final sempre será de quem está com a câmera na mão.
23 de outubro de 2010 (sábado),
às 19hs,
No SENAC de Picos, rua Marcos Parente, 570 - Centro.
Entrada Franca
Boa exibição!
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